Total de visualizações de página

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Encruzilhada dos Sem Cabeças (III Parte)

O marco demarcatório de terras foi o pomo de discórdia de muitos e desgraça de outros. Os filhos dos imigrantes assistiram cenas até grotescas por causa das divisas nos primórdios da colonização. Um incidente impressionante aconteceu numa contenda de divisas entre dois irmãos nascidos nas barrancas do Rio das Antas os quais partiram para as terras novas no interior do município de Marcelino Ramos. Os dois irmãos vinham alimentando uma longa desavença por causa da divisa entre as duas colônias. E para alimentar as diferenças eram ferrenhos adversários políticos. Num certo dia os dois irmãos discutiram acaloradamente sobre as diferenças nas divisas das duas colônias. Na discussão ambos estavam munidos de foices. Os ânimos se alteraram e desandaram para ofensas pessoais. Na discussão acalorada partiram para agressão física. No duelo das foices, golpearam-se certeira e simultaneamente no pescoço e tombaram os dois decapitados. A cabeça de um rolou para um lado direito e ficou em posição vertical olhando para o lado leste. A do outro rolou para o lado esquerdo da estrada, também em posição vertical olhando para o lado oeste. As duas cabeças estavam de olhos abertos frente a frente de olhos abertos. As foices permaneceram seguras nas mãos dos dois. Ninguém presenciou a luta entre eles. A cena fratricida foi tão chocante que até hoje é comentada a ação dos dois irmãos tombando sob o peso do ódio e da ignorância crentes de que estavam no reino do mais forte. Foi uma luta de Pirro, onde não sobreviveu ninguém de ambos os lados para contar a refrega mortal. A população não entendeu a ação dramática e violenta dos irmãos. Após o inusitado caso não mais se falou em divisas demarcatórias nas redondezas. O local onde aconteceu o fato até hoje leva o nome de - encruzilhada dos sem cabeça. Esses e muitos outros casos aconteceram nos primórdios da colonização da Serra Gaúcha. Os fatos são contados e transmitidos na oralidade de geração em geração. Antes que essas histórias se percam no espaço e no tempo o registro escrito é um ato de zelo pela história e estórias de Nova Veneza que sabe de onde veio e certamente sabe para onde vai.  
Plínio Mioranza

Nenhum comentário: