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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Um museu a céu aberto (Parte I)

“Não se conhece uma sociedade enquanto não se estuda os seus cemitérios.” (Michel Vovelle)

Entre as lembranças dos moradores, diversos causos contados e recontados, que constituem o imaginário dos alicerces da história da comunidade do Travessão Alfredo Chaves. Sobretudo, informações de ordem estrutural, como a alteração do espaço físico, diretamente ligado ao processo migratório e ao êxodo rural do território.
Nesse lugar de memória, foram encontrados resquícios materiais, em volta do que podemos considerar cada sepultura um “monumento ao morto”. Cruzes, epitáfios e estatuária, remetendo o lugar exato onde ocorreu o sepultamento e mais que isso, nomes, datas e lembranças que os vivos querem deixar de seus mortos - fontes materiais que conferem certa imortalidade.

(Parte I: Explicações necessárias)

O cemitério é um “museu a céu aberto", porque nele podem ser encontradas diversas fontes de pesquisa tais como:
Fonte histórica para preservação da memória familiar e coletiva;
Fonte de estudo das crenças religiosas;
Forma de expressão do gosto artístico;
Forma de expressão da ideologia política;
Forma de preservação do patrimônio histórico;
Fonte indicadora da evolução econômica e dos padrões da população local;
Fonte para conhecer a formação étnica;
Fonte para o estudo da genealogia;
Fonte reveladora da perspectiva de vida;
Fonte reveladora das posições da população local perante a morte.
Nesse sentido, as informações são obtidas através da análise de epitáfios, de fotos tumulares, das simbologias nas obras funerárias e da expressão artística dos monumentos e mausoléus. Por isso, eles preservam a história de uma comunidade e são preciosas fontes, porque é nos cemitérios que as sociedades projetam seus valores, crenças, estruturas econômicas, sociais e ideológicas.

O cemitério do Travessão Alfredo Chaves localiza-se na 16ª légua da antiga Colônia Caxias e é composto pelas capelas São João Batista, São Judas Tadeu e Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças. O atendimento religioso foi diversificado ao longo do tempo, tendo sido atendido ora pela Paróquia Santo Antônio de Nova Pádua (Congregação dos Padres Diocesanos) ora pela Paróquia Nossa Senhora de Lourdes de Flores da Cunha (Congregação dos Freis Capuchinhos).
A localidade começou a ser colonizada a partir de 15 de janeiro de 1884, quando se estabeleceram no local os primeiros imigrantes italianos.
Naquela época, os moradores deram-lhe a alcunha de Nova Veneza, que segundo Plínio Mioranza, deu-se pelo destaque dos riachos que banhavam o território e faziam a paisagem relembrar os canais venezianos. Por isso, estando os imigrantes no Novo Mundo, passaram a chamar a sede do pequeno povoado, de Nova Veneza. Já a denominação Travessão Alfredo Chaves é uma homenagem ao Dr. Alfredo Rodrigues Fernandes Chaves, que auxiliou nos serviços de regulamentação da Inspetoria Geral de Terras e Colonização no Núcleo Colonial Italiano no Rio Grande do Sul.

A capela São João Batista
Situa-se na sede do Travessão Alfredo Chaves. De acordo com o Pe. Antonio Galioto, no livro História de Nova Pádua, 1992, por volta de 1894, um morador teria doado um pedaço de terras, onde teria construído uma casa para instalação do padre e onde também seria construída uma capela, como aconteceu. Aparentemente, o doador era comerciante e teria interesses econômicos em constituir uma Paróquia no local, pois inúmeros fiéis se deslocariam para lá. Entretanto, a Paróquia acabou sendo fixada em Nova Pádua, o que gerou inúmeras divergências ao longo da história.
Quase trinta anos depois, conforme correspondências registradas no livro Tombo da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, os moradores solicitaram a construção de uma nova igreja, em madeira. Contrapondo-se, o vigário de Nova Trento, Pe. Angélico, enviou uma correspondência à Cúria dizendo que a capela possuía uns trinta sócios, cujas famílias eram mais afortunadas que de outras capelas e solicitou apoio para que fosse determinado que a igreja viesse a ser construída em alvenaria. Consta, ainda, que os moradores realizaram uma votação secreta, na qual a maioria optou por construir a igreja de madeira e o vigário teve que intervir energicamente, precisando contar com o apoio de seus superiores.
Depois da troca de correspondências, chegou o aval final da Cúria, cujo ofício foi lido pelo Pe. Angélico e levado imediatamente pelo padre Ladislao ao Travessão Alfredo, para ser lido aos interessados. O Ofício previa que a capela deveria ser construída em material sólido, com planta arquitetônica e que o terreno fosse doado à Mitra. Após a leitura, o padre demitiu de pleno direito os fabriqueiros e nomeou uma comissão que denominou: “Comissão Construtora da Igreja”, que foi formada por: Jacynto Bordin, Eugênio Reginatto, Antonio Bresolin, Caetano Sandri, Fidencio Centernaro e João Deboni, o que no final animou os moradores.
Porém, como era o ano de 1923, época da Revolução dos Maragatos contra os Pica-paus e, como a capela seria construída às margens da antiga estrada para Vacaria, surgiram novos empecilhos. O vai e vem de tropas pacifistas e revolucionárias, fez com que os moradores decidissem esperar o fim da revolução para iniciar a construção. Assim, no ano de 1924, foi inaugurada a atual igreja, de alvenaria, em honra a São João Batista, cuja imagem foi benta no ano de 1927. Em 1941, concluiu-se a construção do campanário.

A capela São Judas Tadeu
Situa-se na Linha 40, sendo que a primeira igreja, de madeira, foi inaugurada em 1952, dando lugar no ano de 1981 a uma nova edificação, em alvenaria.

A capela Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças
Situa-se nos fundos do Travessão Martins, a cerca de 10 KM da sede do Município. A primeira igreja, de madeira, foi inaugurada no ano de 1973, com o incentivo do Padre Tranqüilo Mugnol, pároco de Nova Pádua. Devido a diversos temporais, por várias vezes a igreja foi destelhada, chegando numa ocasião a quebrar a estátua da padroeira. Por isso, em 1997, foi construída e inaugurada uma nova capela em alvenaria.


Danúbia Otobelli - dan_belly@hotmail.com

Gissely Lovatto Vailatti - gissely.lovatto@hotmail.com



Imagem 1: Foto do Livreto que contém o regulamento do Cemitério que é administrado por uma sociedade. Acervo: Benedeto Ferrarini


Imagem 2: Capa do livro: Benedictus: Arte, história e ideologia dos cemitérios de Flores da Cunha, escrito por Danúbia Otobelli e Gissely Lovatto Vailatti, de onde foi extraído o texto.




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