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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A CARAVANA...

No dia l5 de janeiro de l884 terminava a quarentena das 50 famílias italianas acampadas no casarão dos imigrantes no Campo dos Bugres. Naquela manhã iniciava a longa caminhada na trilha da floresta até as colônias a eles destinadas. Partia do Campo dos Bugres a caravana de mais de uma centena de pessoas com destino a XVI Légua - Travessão Alfredo Chaves. As 52 colônias demarcadas pelo governo imperial no travessão iniciam ao sul na cabeça dos montes do Rio Oitenta e ao norte terminam aos pés do Rio das Antas. Os organizadores dos assentamentos estavam ansiosos para liberar mais um grupo e levá-los até as terras já demarcadas. Terminada a quarentena no casarão dos imigrantes completava-se o ciclo de transição entre continentes e também a ruptura definitiva dos laços de uma pátria incapaz de sustentar os próprios cidadãos. Os representantes do governo imperial coordenavam a operação. Enquanto uns chegavam outros partiam. Para conduzir a caravana os encarregados destacaram cinco desbravadores munidos de uma tropilha de mulas encangalhadas para o transporte de alimentos e utensílios. O coordenador inicia a chamada:

Colônia de N°1-Benedetto Vedana. 2-Natale Piazza. 3-Domênico Frison. 4- Toríbio Malacarne. 5- Ângelo Magnabosco. 6- Luigi Malacarne. 7- Giuseppe Cavachini. 8- Domenico Longo. 9- Fortunato Reginato. 10- Pietro Toscan. Os dez chamados passaram com suas famílias na repartição onde recebiam as provisões. Após a distribuição dos mantimentos suficientes para o próprio sustento, partiram em direção ao norte.

O segundo coordenador continuou a chamada: A colônia de N°11- Francesco Dalla Costa. 12- Giovanni Speranza. 13- Pietro Mioranza. 14- Francesco Caldart. 15- Domenico Batiston. 16- Bortolo Balvedi. 17- João Paschoal Mangari. 18- Carlo Dalla Costa. 19- Marco Brezolin. 20- Francesco Brezolin. Também esse grupo recebeu mantimentos e partiram pela mesma trilha dos primeiros.

O terceiro coordenador fez a outra chamada: Colônia de N° 21 Giovanni Brezolin. 22- Pietro Brezolin. 23- Paolo Vacchi. 24- Giovanni Reginato. 25- Ângelo Reginato. 26- Antonio Zardo. 27- Fortunato Reginato. 28- Giuseppe Bordin. 29- Pietro Bordin. 30- Giacomo Capellari. Após receberem o farnel partiram no encalço dos outros.

O quarto coordenador aos gritos fez a leitura dos nomes: Colônia de N° 31- Giuseppe Gilioli. 32- Pietro Gazzi. 33- Giuseppe Brezolin. 34- Ângelo Vanelli. 35- Giovanni Batista Brezolin. 36- Luigi Preto. 37- Angelo Preto. 38- Domenico Preto. 39- Bortolo Alban. 40- Gioseppe Brezolin. Todos com seus pertences formam fila atrás do condutor e seguem o mesmo caminho dos anteriores.

O quinto coordenador faz a última chamada: Colônia N°40- Giuseppe Morsolin. 41- Aníbale Morsolin. 42- Girolamo De Faveri.43- Pietro Pavan. 44- Pasquale Commazotto. 45- Carlo Pavan. 46- Pietro Gazzi. 47- Giuseppe Dalla Fusine. 48- Giovanni Scortegagna. 49- Domenico Veronese. 50 e 52- Giuseppe Scortegagna. 51- Giacomo Menegatto.

As 50 famílias se reconheciam como todas iguais – pobres. Antes a pobreza que a fome. Com a mão levantada, o líder conduz, alinhando-os um traz outro, seguindo os grupos que já estavam em marcha na estreita picada. Ao clarear o dia caminhavam em fila indiana em direção ao norte pela linha 30 onde ouvem os gritos de famílias já acampadas “Siamo de Magrè”! Descem ao vale da linha 40, onde se ouvem as vozes feltrinas. Sobem à encosta da linha 60, onde fizeram o primeiro descanso perto de um riacho de águas cristalinas. Ouviam-se os gritos partindo das pequenas casas à beira da picada: “Trevisani, facciamo l’Amèrica”!. Ouvindo as vozes conterrâneas crescia o ânimo para seguir em frente. A água fresca era uma bênção para a ingestão da farinha de mandioca e seguiam em direção à linha 80 onde ouvem os gritos de “Viva Mântova”! Atravessaram o pequeno rio e subiram em direção a linha 100. Fizeram uma parada debaixo do sol apontando o centro do céu azul. É lá que ouvem os cremoneses alojados em pequenas cabanas derrubando a mata. Muitas mulheres traziam os filhos no colo e outras no ventre. Segue para o Travessão Camargo, os falares cantados dos vicentinos permeiam a mata. A marcha em direção ao Travessão Martinho é interrompida pela voz do belunês Domenico Caldart: avanti che il nuovo mondo è qui ! Mais um quilômetro a caravana chega ao destino - Travessão Alfredo Chaves. Na chegada o sol já se escondia atrás das araucárias. Corriam soltos os comentários - aqui é uma Veneza! Os pequenos riachos transbordavam, as águas andavam pelo prado verde espelhando a lua cheia no fino espelho d’água. A cabana coberta de folhas de palmeiras era o alojamento. A mesma havia servido de acampamento aos agrimensores contratados pelo governo imperial na demarcação das colônias. A caravana dos 50 fez nascer Nova Veneza e foi ali que se construiu uma bela história e outras tantas estórias. Este foi o sonho do bis-nono na noite anterior à marcha para a terra que lhe deu chão.

Plínio Mioranza

plinio@mp.com.br

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