
Imagem: Matéria publicada pelo Jornal Pioneiro, 04/01/1984.
Portal de divulgação de atividades desenvolvidas em Nova Veneza - Travessão Alfredo Chaves, Flores da Cunha, Rio Grande do Sul, Brasil, durante a realização da pesquisa que deu origem ao livro que conta a história da comunidade. Sobretudo, um meio de divulgação de dados do levantamento histórico sobre a comunidade e elo de ligação com os colaboradores da pesquisa. Obrigado pela visita! Deixe seu comentário antes de sair desta página.
No dia l5 de janeiro de l884 terminava a quarentena das 50 famílias italianas acampadas no casarão dos imigrantes no Campo dos Bugres. Naquela manhã iniciava a longa caminhada na trilha da floresta até as colônias a eles destinadas. Partia do Campo dos Bugres a caravana de mais de uma centena de pessoas com destino a XVI Légua - Travessão Alfredo Chaves. As 52 colônias demarcadas pelo governo imperial no travessão iniciam ao sul na cabeça dos montes do Rio Oitenta e ao norte terminam aos pés do Rio das Antas. Os organizadores dos assentamentos estavam ansiosos para liberar mais um grupo e levá-los até as terras já demarcadas. Terminada a quarentena no casarão dos imigrantes completava-se o ciclo de transição entre continentes e também a ruptura definitiva dos laços de uma pátria incapaz de sustentar os próprios cidadãos. Os representantes do governo imperial coordenavam a operação. Enquanto uns chegavam outros partiam. Para conduzir a caravana os encarregados destacaram cinco desbravadores munidos de uma tropilha de mulas encangalhadas para o transporte de alimentos e utensílios. O coordenador inicia a chamada:
Colônia de N°1-Benedetto Vedana. 2-Natale Piazza. 3-Domênico Frison. 4- Toríbio Malacarne. 5- Ângelo Magnabosco. 6- Luigi Malacarne. 7- Giuseppe Cavachini. 8- Domenico Longo. 9- Fortunato Reginato. 10- Pietro Toscan. Os dez chamados passaram com suas famílias na repartição onde recebiam as provisões. Após a distribuição dos mantimentos suficientes para o próprio sustento, partiram em direção ao norte.
O segundo coordenador continuou a chamada: A colônia de N°11- Francesco Dalla Costa. 12- Giovanni Speranza. 13- Pietro Mioranza. 14- Francesco Caldart. 15- Domenico Batiston. 16- Bortolo Balvedi. 17- João Paschoal Mangari. 18- Carlo Dalla Costa. 19- Marco Brezolin. 20- Francesco Brezolin. Também esse grupo recebeu mantimentos e partiram pela mesma trilha dos primeiros.
O terceiro coordenador fez a outra chamada: Colônia de N° 21 Giovanni Brezolin. 22- Pietro Brezolin. 23- Paolo Vacchi. 24- Giovanni Reginato. 25- Ângelo Reginato. 26- Antonio Zardo. 27- Fortunato Reginato. 28- Giuseppe Bordin. 29- Pietro Bordin. 30- Giacomo Capellari. Após receberem o farnel partiram no encalço dos outros.
O quarto coordenador aos gritos fez a leitura dos nomes: Colônia de N° 31- Giuseppe Gilioli. 32- Pietro Gazzi. 33- Giuseppe Brezolin. 34- Ângelo Vanelli. 35- Giovanni Batista Brezolin. 36- Luigi Preto. 37- Angelo Preto. 38- Domenico Preto. 39- Bortolo Alban. 40- Gioseppe Brezolin. Todos com seus pertences formam fila atrás do condutor e seguem o mesmo caminho dos anteriores.
O quinto coordenador faz a última chamada: Colônia N°40- Giuseppe Morsolin. 41- Aníbale Morsolin. 42- Girolamo De Faveri.43- Pietro Pavan. 44- Pasquale Commazotto. 45- Carlo Pavan. 46- Pietro Gazzi. 47- Giuseppe Dalla Fusine. 48- Giovanni Scortegagna. 49- Domenico Veronese. 50 e 52- Giuseppe Scortegagna. 51- Giacomo Menegatto.
As 50 famílias se reconheciam como todas iguais – pobres. Antes a pobreza que a fome. Com a mão levantada, o líder conduz, alinhando-os um traz outro, seguindo os grupos que já estavam em marcha na estreita picada. Ao clarear o dia caminhavam em fila indiana em direção ao norte pela linha 30 onde ouvem os gritos de famílias já acampadas “Siamo de Magrè”! Descem ao vale da linha 40, onde se ouvem as vozes feltrinas. Sobem à encosta da linha 60, onde fizeram o primeiro descanso perto de um riacho de águas cristalinas. Ouviam-se os gritos partindo das pequenas casas à beira da picada: “Trevisani, facciamo l’Amèrica”!. Ouvindo as vozes conterrâneas crescia o ânimo para seguir em frente. A água fresca era uma bênção para a ingestão da farinha de mandioca e seguiam em direção à linha 80 onde ouvem os gritos de “Viva Mântova”! Atravessaram o pequeno rio e subiram em direção a linha 100. Fizeram uma parada debaixo do sol apontando o centro do céu azul. É lá que ouvem os cremoneses alojados em pequenas cabanas derrubando a mata. Muitas mulheres traziam os filhos no colo e outras no ventre. Segue para o Travessão Camargo, os falares cantados dos vicentinos permeiam a mata. A marcha em direção ao Travessão Martinho é interrompida pela voz do belunês Domenico Caldart: avanti che il nuovo mondo è qui ! Mais um quilômetro a caravana chega ao destino - Travessão Alfredo Chaves. Na chegada o sol já se escondia atrás das araucárias. Corriam soltos os comentários - aqui é uma Veneza! Os pequenos riachos transbordavam, as águas andavam pelo prado verde espelhando a lua cheia no fino espelho d’água. A cabana coberta de folhas de palmeiras era o alojamento. A mesma havia servido de acampamento aos agrimensores contratados pelo governo imperial na demarcação das colônias. A caravana dos 50 fez nascer Nova Veneza e foi ali que se construiu uma bela história e outras tantas estórias. Este foi o sonho do bis-nono na noite anterior à marcha para a terra que lhe deu chão.
Plínio Mioranza
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(Parte I: Explicações necessárias)
O cemitério é um “museu a céu aberto", porque nele podem ser encontradas diversas fontes de pesquisa tais como:
Fonte histórica para preservação da memória familiar e coletiva;
Fonte de estudo das crenças religiosas;
Forma de expressão do gosto artístico;
Forma de expressão da ideologia política;
Forma de preservação do patrimônio histórico;
Fonte indicadora da evolução econômica e dos padrões da população local;
Fonte para conhecer a formação étnica;
Fonte para o estudo da genealogia;
Fonte reveladora da perspectiva de vida;
Fonte reveladora das posições da população local perante a morte.
Nesse sentido, as informações são obtidas através da análise de epitáfios, de fotos tumulares, das simbologias nas obras funerárias e da expressão artística dos monumentos e mausoléus. Por isso, eles preservam a história de uma comunidade e são preciosas fontes, porque é nos cemitérios que as sociedades projetam seus valores, crenças, estruturas econômicas, sociais e ideológicas.
O cemitério do Travessão Alfredo Chaves localiza-se na 16ª légua da antiga Colônia Caxias e é composto pelas capelas São João Batista, São Judas Tadeu e Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças. O atendimento religioso foi diversificado ao longo do tempo, tendo sido atendido ora pela Paróquia Santo Antônio de Nova Pádua (Congregação dos Padres Diocesanos) ora pela Paróquia Nossa Senhora de Lourdes de Flores da Cunha (Congregação dos Freis Capuchinhos).
A localidade começou a ser colonizada a partir de 15 de janeiro de 1884, quando se estabeleceram no local os primeiros imigrantes italianos.
Naquela época, os moradores deram-lhe a alcunha de Nova Veneza, que segundo Plínio Mioranza, deu-se pelo destaque dos riachos que banhavam o território e faziam a paisagem relembrar os canais venezianos. Por isso, estando os imigrantes no Novo Mundo, passaram a chamar a sede do pequeno povoado, de Nova Veneza. Já a denominação Travessão Alfredo Chaves é uma homenagem ao Dr. Alfredo Rodrigues Fernandes Chaves, que auxiliou nos serviços de regulamentação da Inspetoria Geral de Terras e Colonização no Núcleo Colonial Italiano no Rio Grande do Sul.
A capela São João Batista
Situa-se na sede do Travessão Alfredo Chaves. De acordo com o Pe. Antonio Galioto, no livro História de Nova Pádua, 1992, por volta de 1894, um morador teria doado um pedaço de terras, onde teria construído uma casa para instalação do padre e onde também seria construída uma capela, como aconteceu. Aparentemente, o doador era comerciante e teria interesses econômicos em constituir uma Paróquia no local, pois inúmeros fiéis se deslocariam para lá. Entretanto, a Paróquia acabou sendo fixada em Nova Pádua, o que gerou inúmeras divergências ao longo da história.
Quase trinta anos depois, conforme correspondências registradas no livro Tombo da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, os moradores solicitaram a construção de uma nova igreja, em madeira. Contrapondo-se, o vigário de Nova Trento, Pe. Angélico, enviou uma correspondência à Cúria dizendo que a capela possuía uns trinta sócios, cujas famílias eram mais afortunadas que de outras capelas e solicitou apoio para que fosse determinado que a igreja viesse a ser construída em alvenaria. Consta, ainda, que os moradores realizaram uma votação secreta, na qual a maioria optou por construir a igreja de madeira e o vigário teve que intervir energicamente, precisando contar com o apoio de seus superiores.
Depois da troca de correspondências, chegou o aval final da Cúria, cujo ofício foi lido pelo Pe. Angélico e levado imediatamente pelo padre Ladislao ao Travessão Alfredo, para ser lido aos interessados. O Ofício previa que a capela deveria ser construída em material sólido, com planta arquitetônica e que o terreno fosse doado à Mitra. Após a leitura, o padre demitiu de pleno direito os fabriqueiros e nomeou uma comissão que denominou: “Comissão Construtora da Igreja”, que foi formada por: Jacynto Bordin, Eugênio Reginatto, Antonio Bresolin, Caetano Sandri, Fidencio Centernaro e João Deboni, o que no final animou os moradores.
Porém, como era o ano de 1923, época da Revolução dos Maragatos contra os Pica-paus e, como a capela seria construída às margens da antiga estrada para Vacaria, surgiram novos empecilhos. O vai e vem de tropas pacifistas e revolucionárias, fez com que os moradores decidissem esperar o fim da revolução para iniciar a construção. Assim, no ano de 1924, foi inaugurada a atual igreja, de alvenaria, em honra a São João Batista, cuja imagem foi benta no ano de 1927. Em 1941, concluiu-se a construção do campanário.
A capela São Judas Tadeu
Situa-se na Linha 40, sendo que a primeira igreja, de madeira, foi inaugurada em 1952, dando lugar no ano de 1981 a uma nova edificação, em alvenaria.
A capela Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças
Situa-se nos fundos do Travessão Martins, a cerca de 10 KM da sede do Município. A primeira igreja, de madeira, foi inaugurada no ano de 1973, com o incentivo do Padre Tranqüilo Mugnol, pároco de Nova Pádua. Devido a diversos temporais, por várias vezes a igreja foi destelhada, chegando numa ocasião a quebrar a estátua da padroeira. Por isso, em 1997, foi construída e inaugurada uma nova capela em alvenaria.
Danúbia Otobelli - dan_belly@hotmail.com
Gissely Lovatto Vailatti - gissely.lovatto@hotmail.com
Imagem 1: Foto do Livreto que contém o regulamento do Cemitério que é administrado por uma sociedade. Acervo: Benedeto Ferrarini
Imagem 2: Capa do livro: Benedictus: Arte, história e ideologia dos cemitérios de Flores da Cunha, escrito por Danúbia Otobelli e Gissely Lovatto Vailatti, de onde foi extraído o texto.