O livro pode ser adquirido na Livraria do Maneco, em Caxias do Sul, pelo valor de R$ 150,00
FAMÍLIAS
Apesar de todos os avanços sociais e políticos, das grandes transformações da esfera pública, a vida privada continua sendo um oásis de apoio e de segurança dos indivíduos. E é principalmente na instituição da família que cada um descobre os verdadeiros laços de sustentação afetiva e até econômica. A família na história passou por profundas mudanças de estrutura e de funções e, assim mesmo, continua sendo a base da sociedade e da felicidade de milhões de pessoas. É natural que a família seja lugar de encontros altamente positivos e, também, de desencontros e até de ódios, desde os tempos de Abel e de Caim.
Entretanto, nada mais nocivo à sociedade do que a desestruturação familiar. Por isso, hoje, com a volta da sagração da intimidade que, segundo L. Ferry, é uma espécie de novo humanismo, nas relações entre o privado e o público, cabe ao privado um enorme papel. Nesse sentido, a família não desapareceu. Pelo contrário, com nova organização, e mesmo com o alto número de divórcios, ainda é o fundamento e a mais autêntica das instituições. Agora, mais do que nunca, cercada de amor e de intimidade. A crise da família é apenas um sintoma da necessidade de torná-la cada vez mais verdadeira e necessária.
- Das duas dezenas de livros de histórias de família que já tive a ocasião de conhecer, sem dúvida, um dos mais completos é De Val Del Mis a Nova Veneza: História da Família Mioranza, cujos textos foram elaborados por Ciro Mioranza, Gissely Lovatto Vailatti e Plínio Mioranza. (Caxias do Sul: Maneco, 2012). A pesquisa e o planejamento da obra envolveram muitos familiares.
O volume, mais do que notável tamanho, possui igualmente densidade de informações e conhecimentos de história dos imigrantes italianos no nordeste do Estado gaúcho. Os capítulos sobre a Itália, especialmente da província de Belluno, e sobre o Brasil e o Rio Grande do Sul, são breves sem deixarem de ser completos e ricos de informações históricas. Eles contextualizam, de modo admirável, a saga dos imigrantes. Por isso, significam muito para qualquer leitor interessado nas nossas origens sociais e históricas.
- Além de nomes, datas, registros biográficos, depoimentos e fotografias, apresentados com bom gosto, alguns textos narram, num estilo agradável, o processo de identificação dos antepassados. Na realidade, toda história de família reúne sob um único nome muitos outros nomes de outras famílias. Nisso reside o sentido da história da família, pois, ela é de fato a história de muitas famílias que formam um grupo que estende seus laços além de suas paredes e com o tempo formam comunidades.
De Val Del Mis a Nova Veneza é uma parte de nossa história e da história de uma nação. É com obras dessa natureza que podemos tomar consciência do passado e do futuro e dos processos culturais que nos formam e determinam como povo, como sujeitos de nossa história.
- O coletivo está enraizado no individual, na expressão de Ferry. O coletivo na realidade não existe por si. Ele depende dos indivíduos, de suas vivências, saberes e trabalhos, de suas decisões racionais e forças emocionais, de suas percepções e lembranças.
- É preciso penetrar nos labirintos da memória e retirar dela as melhores lições. Exercer o espírito crítico e também a compreensão dos eventos. Só assim podemos construir a identidade que nos define e nos torna verdadeiros sujeitos de nossos atos.
Jayme Paviani, Jornal Pioneiro – Almanaque, 24.3.2012. http://www.clicrbs.com.br/pioneiro/rs/impressa/11,3704105,1232,19258,impressa.html
Oriundi: Giornalismo fatto con passione
http://www.oriundi.net/site/oriundi.php?menu=categdet&categ=54&id=19948
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De Val del Mis a Nova Veneza
Os nomes próprios de lugares e os nomes próprios de pessoas têm significados desconhecidos pela maioria dos que os leem ou ouvem no decorrer de todos os dias. Os nomes próprios não são meras etiquetas, não são rótulos atribuídos a lugares, ou a pessoas. Eles têm um étimo, um sentido original.
O nome próprio de família carrega múltiplos e complexos sentidos, envoltos na longitude do tempo, na distância que se interpõe entre um canto e outro do mundo. Tempo e distância cobrem o nome de opacidade, velam sua origem remota e silenciam histórias de vidas edificadas através de séculos, de travessias e chegadas. A travessia que separou o Velho do Novo Mundo também enlaça o passado e o presente. Para além do oceano estão as raízes, conhecidas ou não, contudo nomeadas. O nome próprio de família tem poder: morre e renasce em cada geração, como a fênix das cinzas se refaz.
Desvelar essa longa trajetória é remover, passo a passo, a poeira depositada pela passagem do tempo. E é, também, conhecer, pouco a pouco, a complexa rede formada por sucessivas gerações. É procurar saber, com espírito aberto e sereno, quem fomos e quem somos. Um provérbio milanês, colhido entre nossos falantes, ensina: “Tal e qual l’è el scioch, vem foeura i tapp” (Tal e qual é o cepo saem as lascas ou Tal pai tal filho). Ao mesmo tempo em que esse provérbio nos remete à cepa primeira e estabelece nossas similitudes com os ancestrais, outro provérbio adverte sobre nossas diferenças: “De una soca vién fora tante stèle.” (De um cepo saem tantas lascas). Temos uma identidade tão antiga e remota que se perde na noite do tempo. Temos outras identidades construídas e reconstruídas através dos múltiplos caminhos de nossas vidas; restauradas e remodeladas, elas, ao mesmo tempo, nos unem e nos separam, nos revelam iguais e nos fazem diferentes.
O livro De Val del Mis a Nova Veneza, que nos narra a história da Família Mioranza, constitui um exemplo de trabalho sério, de pesquisa desenvolvida durante um longo período, aqui e na Itália. Não se trata de uma história de vida fantasiada, o livro nos mimoseia com uma farta documentação: cópias de imagens, de fotografias, de paisagens, de caminhos e vales, em síntese, de documentos que se revestem de importância para todos os que desejam conhecer um pouco mais da Itália e do processo migratório em tempos de dor, de miséria e de fome. Dá-nos informações preciosas do contexto italiano da época da grande emigração para o Brasil. A obra não é somente uma joia de família, é um produto cultural de quem conhece e sabe história e linguagem. Como obra extrapola o círculo familiar e se põe ao alcance de todos, como um bem que merece ser socializado, como uma joia que tem brilho próprio e se destaca entre tantas outras histórias de famílias escritas nestes últimos anos. Publicada, na forma impressa, preserva histórias de vidas passadas, verdadeiros exemplos de virtude, de coragem, de células familiares fundadas no amor e na trilha do bem.
Professora Dr.ª Vitalina Maria Frosi, 6.2.2012